sexta-feira, 30 de setembro de 2016

De que interessa falar sobre Jogos de Tabuleiro? – Opinião por Micael Sousa


Quando eu e o Edgar começamos com este blogue havia pouca coisa regular escrita em português sobre jogos de tabuleiro. A principal fonte nacional era o portal “Abre o Jogo”. Blogues e sítios com partilhas regulares e constantes era coisa mais raro. Seguindo esta “New Wave” dos jogos de tabuleiro modernos, tal como o nosso blogue, têm surgido agora cada vez mais espaços dedicados ao tema – e ainda bem!

Começamos o blogue com o intuito de divulgar os jogos que íamos conhecendo e jogando, tentando contribuir para que fossem mais conhecidos cá por Portugal e Leiria - que é a cidade onde vivemos. Definimos uma metodologia e lá avançamos com as “reviews” regulares.

Depois lembramo-nos de adicionar também textos de opinião mais generalistas sobre jogos de tabuleiro. Foi surpreendente verificar que estes escritos estavam entre os mais vistos. O 4 textos mais vistos do blogue são deste tipo. Tendo em conta a especificidade do tema e ao escrevermos em português é surpreendente ver que alguns destes textos se aproximam do milhar de visualizações.

Parece que afinal há uma real vontade de filosofar sobre esta coisa dos jogos de tabuleiro modernos. Os assuntos dos textos podem parecer muito estranhos para quem desconhece o hobby, mas os aficionados vão crescendo em número, notando-se cada vez mais referências nos meios de comunicação social a esta realidade. Há clubes e grupos de jogadores por todo o país. Quanto a "boardgame cafés" penso que só existe um em Portugal, o Pow WoW em Lisboa.

Os jogos de tabuleiro ainda têm muito caminho por percorrer em Portugal. Os preconceitos são muitos e o poder de compra nacional, tal como hábitos sociais que lhes podem ser estranhos, ainda criam barreiras difíceis de ultrapassar. Fica a esperança de nos aproximarmos lentamente de outros países!

Cá continuaremos com os nossos textos porque, acima de tudo, temos um imenso prazer em falar destes assuntos!

Seguem os 10 textos mais vistos do blogue desde a sua criação:
N.º 10 - Magic: The Gathering
N.º 9 - Star Realms
N.º 8 - Twilight Struggle
N.º 7 - Caverna
N.º 6 - Monopólio, um ódio de estimação
N.º 5 - Jogar para Ganhar ou Vencer ao Jogar?
N.º 4 -  Ainda jogam jogos de vídeo ou ficam somente pelo jogo de tabuleiro?
N.º 3 - Jogar constantemente jogos novos ou ficar sempre pelo mesmo?
N.º 2 - Como explicar e divulgar isto dos jogos de tabuleiro?
N.º 1 - Quando parar de comprar jogos?

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Jogar constantemente jogos novos ou ficar sempre pelo mesmo? – Opinião por Micael Sousa

Podem gostar de jogos de tabuleiro e não serem massivos colecionadores ou viciados em conhecer todas as novidades sobre o tema – e são tantas que é quase impossível seguir tudo. Podem ser daqueles e daquelas aficionados e aficionadas que só jogam um jogo de fez em quando e que vão continuar a jogar esse mesmo e único jogo  até ao fim dos vosso dias a jogar essa dita coisa. Ou então de tempos a tempos lá jogam uma coisa nova.

Fonte da imagem: https://tinasrabbithole.wordpress.com/2014/05/02/gamesroleplayingfantasy-shop/

Bem. Sou um permanente insatisfeito nisto dos jogos de tabuleiro, sempre na demanda por encontrar o jogo perfeito. É uma utopia que me alimenta o gosto pelo hobbie, que me faz comprar mais jogos do que aqueles que consigo jogar. Mas sou também um colecionar. Crio assim muita rotatividade inevitável no que levo à mesa. Do ponto de vista competitivo é uma má opção, pois nunca há tempo suficiente para conhecer a fundo um jogo e domina-lo em grupo. No caso dos jogos mais complexos, especialmente nos “eurogames”, isto pode ser problemático, pois dificilmente um jogador que o experimenta pela primeira vez pode ser competitivo comparativamente aos adversários mais experientes. A complexidade e excesso de regras, tal como as intrincadas mecânicas, desmultiplicadas e pouco comuns, não ajudam, apesar de serem as mais interessantes em determinados casos. Ganha, aquase sempre, quem já jogou pelo menos algumas vezes. Isso pode não acontecer nos jogos mais simplistas, mas esses jogos, para os ditos "gamers" depois sabem sempre a pouco. Claro que há exceções, a beleza de alguns jogos passa pela simplicidade e linearidade das ideias e mecânicas que usa. O difícil, por vezes, é fazer simples e intelectualmente desafiante ou divertido.

Assim levantam-se várias questões. Para apreciar um jogo de tabuleiro é preciso jogar várias vezes, muitas mesmo em determinados títulos. Mas a variedade é tanta, e as novas publicações não param. Quem gosta disto é levado a tentar ficar a par das novas tendências. As novas mecânicas, temas e experiencias que os jogos induzem podem gerar a adição à busca pela constante novidade. Tal manifestação e efeito efémero podem ser paradoxais, pois os jogos de tabuleiro, em princípio, deveriam e poderiam ser intemporais, pois o suporte é menos propenso à desatualização.

Então o que fazer? Qual o comportamento otimo? Esgotar um jogo? Estar sempre a experimentar todas as novidades e procurar aquele jogo perfeito? Então e se o jogo perfeito não existir Se afinal o que interessar é simplesmente jogar o jogo indicado em cada momento? As perguntas não são inocentes. Sei que não existem respostas correctas. Mesmo eu que tenho muita curiosidade por jogos novos acabados de publicar também aprecio um jogo competitivo já bem batido por todos os jogadores que se juntam à mesa.

Talvez sejam estas muitas possibilidades que dão a força e vitalidade que tanto cativa quem se liga a este hobbie. Para além de existirem jogos para todos os tipos e gostos, o próprio modo como se vive esta paixão e se lida com os jogos de tabuleiro é adaptável às preferências de cada um.

Podíamos filosofar sobre a vontade ou falta dela de algumas pessoas em experimentar um novo jogo. Podíamos concluir muitas coisas: o medo da novidade, a preguiça mental, ou a segurança e estabilidade que dá seguir uma tradição. Provavelmente nisto, como em quase tudo na vida, o ideal é sempre o equilíbrio, pois temos sempre o outro extremo, do excesso de consumismo de jogos de forma pouco aprofundada e que pouco dignificam algumas dessas obras-primas da criatividade humana.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

As Viagens de Marco Polo - Por Edgar Bernardo

Enquanto personagem pseudomítico da narrativa eurocêntrica da exploração e contacto multicultural, Marco Polo, tenha ou não de facto visitado e passado pelo que as suas aventuras relatam, tem um potencial vastíssimo para pano de fundo de um jogo de tabuleiro centrado no comércio e exploração, o que de facto este jogo se predispõe a fazer.
 
Fonte da imagem: https://curitibaludica.com.br/2015/08/04/the-voyages-of-marco-polo/
 
Tomamos o papel de um explorador contemporâneo de Marco Polo, ou o próprio, e com a nossa habilidade única procuramos fazer o máximo de pontos possíveis durante as 5 rondas. Os nossos principais recursos são os dados que podemos alocar nas várias ações possíveis que, por sua vez, permitem-nos deslocar e adquirir novos recursos para cumprir contratos. Recursos como camelos, seda, pimenta, ouro e dinheiro... Para além do que é visível a todos os jogadores, temos dois objetivos secretos que procuramos cumprir para conseguir mais alguns pontos. Estes implicam visitar e marcar presença em 4 destinos, 2 por carta.

Um dos aspetos interessantes deste jogo é a sua replicabilidade patente na diversidade de habilidades dos vários personagens, dos bónus das cidades e das ações disponíveis nas ditas cidades, contratos disponíveis para compra, etc. Estão abertas as portas para expansões sem necessitar de novos tabuleiros ou anexos estéticos.

Devo dizer que o que menos me agradou em Marco Polo foi, por um lado, a desconexão entre as habilidades do personagens e os próprios personagens, ou seja, não havia nenhuma razão temática aparente para justificar que a habilidade de um personagem fosse especificamente aquela. Por outro lado, o custo elevado na ação das movimentações também me pareceu excessivamente escalado, impossibilitando uma movimentação mais fluída dos jogadores no tabuleiro.

Mas estas são críticas ou reparos mínimos pois Marco Polo consegue agradar em todos os seus aspetos chave, da iconografia, ao grafismo e às mecânicas de jogo. Na verdade, um dos aspectos mais interessantes é a elegância com que pega em mecânicas já existentes e as trabalha de forma simples e harmoniosa, fugindo a complicações desnecessárias nas suas mecânicas de jogo. Aliás se tivesse alguma mecânica realmente inovadora, na minha opinião, teria também um lugar no panteão dos jogos de tabuleiro da última década.

Recomendo para famílias e para jogadores mais competitivos, sem dúvida um jogo a considerar para qualquer coleção.
 
 
Jogo: As Viagens de Marco Polo
Ano: 2015
Avaliador: Edgar Bernardo
Tipo: Gestão de Recursos
Tema: Viagens e Comércio
Preparação: 15 minutos
Duração: 90/120 minutos
Nº de Jogadores: 2 - 4
Nº Ideal de jogadores: 4
Dimensão: Média
Preço médio: 45€
Idade: 12+

Qualidade dos Componentes: 8
Dimensão dos Componentes: 8
Instruções/Regras: 8
Aleatoriedade: 9
Replicabilidade: 9
Pertinência do Tema: 7
Coerência do Tema: 7
Ordem: 10
Mecânicas: 9
Grafismo/Iconografia: 7
Interesse/Diversão: 8
Interação: 6
Tempo de Espera: 6
Opções/turno: 8
Área de jogo: 8
Dependência de Texto: 10
Curva de Aprendizagem: 8

Pontuação: 8,03
 
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